O Canto do Pássaro do Pescoço Quebrado




1




Pegue minha mão linda dama
Ouça a canção que entoa
E que claramente a rainha ama.
Eleva-se, ergue-se, voa.


Pegue minha mão criança
Ouça a canção que pronuncia.
Ela traz um pouco de esperança
E a Boa Nova que anuncia.


Ouça o pássaro cantar sua canção
Tão distante, que voa para o mundo
Querida dama, tome minha mão.


Juntos cantaremos a canção
Entoando com louvor
O prenúncio da anunciação.

2



Sorriso na sarjeta
Gotas de infelicidade nos olhos
Dorme...dorme e sossegue.


As noites são das criaturas,
Dos sacis e lobisomens.
Dorme...dorme e sossegue.


As noites são dos amantes,
No carrossel que gira o mundo,
Dos beijos sem emoção na roda gigante.
Dorme...dorme e acorde.


Chuva de tristeza na sarjeta
Gotas de perda nos olhos sem amor
Acorde...acorde...este é o seu mundo.


3



Eis que o pássaro do pescoço quebrado voltou
Trazendo sua canção da anunciação.
Ele levou a canção, voou.
Trouxe vida no amargo coração.


Todos querem senti-lo
Tão belo e forte.
Todos querem levá-lo
Em qualquer parte, distante.


Ele não será pego ou aprisionado
Ele precisa voar para o mundo
E girar a roda do Giramundo


Que ao menos permanece inquieto,
Silencioso e despercebido
Outrora aguardando o por-do-sol.



4

Helena- Parte Um



Hoje seus filhos tombaram.
Elevaram-se suas feridas na cidade sitiada.
Levou em desespero a morte anunciada.
Ela fitou e não disse palavra alguma
Nada conteve a silenciosa dor
A perda da alma querida.



5


Vem Minerva!
Os céus anunciam sua chegada.
Mostre o brilho em seu rosto.
Eu a invoco e aguardo sua chegada
Anunciando o amanhecer.



6

Helena- Parte Dois



Hoje seus filhos caíram.
E nem a cidade parou de lamentar.
Reluzia a chama do desperdício
Ela olhou, calada
Nem menos pôde se despedir
Anunciaram a trombeta da queda.



7

Uma Invocação- Parte UM



Que os rouxinóis anunciem,
Que o sol volte a aparecer,
Que a dama volte se emocionar,
Que a invocação do pássaro se inicie.
A Boa Nova começou.


Parte Dois

1

Uma Invocação- Parte Dois



Levantemos as mãos ao céu,
Retiremos a máscara da vergonha,
E lancemos o véu ao léu,


Ouça a rainha saudá-lo,
Os menestréis a invocá-lo,
E os homens clamarem pela sua vinda.


2



Como um vento que passa
O assobio da anunciação
Mascarado eu estou.


Vigio as portas dos seus temores,
Que atormentam o ator sem dor,
Que somente finge em sentir dor.


Amanhã abrirei as portas das minhas fobias,
Botarei fogo nos meus medos e anseios,
Serei o ator sem dor que atua no palco da dor.


Amanhã pintarei o rosto,
Abrirei as portas do meu orgulho,
Fingirei que sou ator que não sente dor.

3

Kassandra- Parte Um



Em meio as labaredas
Imagens sem foco diante dos olhos.
O coração sente. A alma dói.


4



Ouça o bater de asas,
Ouça o seu canto de saudação.
Todos sabem, ele está chegando,
O pássaro do pescoço quebrado


5

Novos Mundos



Abriu a caixa
E brilhantes confetes saíram.
Olhos surpresos sentiram a novidade.


Que grandes mistérios se ocultam?
Que máscara esconde a vergonha?
Que canções do universo tocarão?


O menino fechou a caixa
Ficou com receio
De que a caixa aberta poderia se poluir
E os Novos Mundos se fechassem.


E somente o pássaro do pescoço quebrado
Poderá abri-la novamente.



6

Uma Invocação- Parte Três



As folhas do outono caíram
E a chuva foi despejada.
Era o tempo de Novos Mundos,
O despertar da Segunda vinda.
E o céu abriu para o inverno.







Parte Três

1



Vem me dizer que as flores morreram,
Que o inverno nada mais é que o prelúdio,
Que os amantes adormecem,
Que a canção descansa.


Eu corro no frio da manhã
Que gela meu remorso.
Eu corro no frio da manhã
Com receio de encontrar você.


As crianças brincam no gira-gira
Fico com receio de ver você.
As crianças brincam no gira-gira
Fico com receio de não ver você.



2



Chegou a hora de me pintar
De esconder meu rosto no outro rosto.
Chegou a hora de me pintar.


Chegou a hora de me acariciar
Sentir minha pele na outra pele.
Chegou a hora de me acariciar
Acariciar eu mesmo no outro eu mesmo.


Chegou a hora de tocar meu violão
Sair na rua e tocar para o Giramundo.
Chegou a hora de tocar a entrada das flores.
O ancião disse:” Ele está vindo!’


3

Ele Está Vindo!



Ele voa na noite[
E as crianças cantam sua canção
E as sombras na parede desapareceram
Ao ouvirem o bater de suas asas.


Ele voa na noite
E a humanidade dorme sossegada
Ouvindo seu bater de asas nos sonhos
Da esperança.


Eles esperam o amanhã,
Pois ele está vindo na nova aurora.
Eles esperam o amanhã.
As crianças cantam sua canção
Quando à noite as sombras refugiem.


Isso não é uma canção do fim
E nem a esperança acabou,
Ouça o seu bater de asas.



4

Kassandra- Parte Dois



As imagens mostram
Que os dias vindouros estão chegando.
O bater das asas do pássaro
Abrirá a primavera
E não haverá mais dor, nem alma chorando


5

A Primavera



Eu contei as pétalas de rosas no chão,
Contei os dias que me foram perdidos,
Os dias que você segurava minha mão.


Eu lembrei das pétalas de rosas que caíram,
Dos dias que elas caíram em mim
E os dias que lembrei de você.


Ai de mim que declamei meus poemas
Numa folha de papel pão
E que me demostraram tamanha tristeza.


O outono se foi e junto com a estação
Deixei de declamar meus poemas de saudade,
Agora declamarei meus poemas de triunfo.
Para anunciar a entrada da primavera.


6

Interlúdio



A canção começou e a dama suspirou.
O amante voltou e a beijou.
As crianças voltaram a girar no gira-gira.
E os adultos voltaram a dançar.


Um novo amanhã nasceu
E sua canção entrou em nossos corações
Enquanto o desespero dá lugar à esperança.



7

O Canto do Pássaro



Pegue minha mão minha dama,
Ouça a canção que estava escondida.
Eu danço, eu sorrio e você me ama
Ouça a canção oferecida.


Pegue minha mão criança
Ouça a canção do pássaro que emociona.
Ele canta e presenteia a esperança.
Eu danço, eu sorrio e você se emociona.


O pássaro do pescoço quebrado surgiu
E a humanidade uma vez mais emergiu
E a tristeza e as sombras desapareceram.


O canto do pássaro invadiu a humanidade.
E que os fins são o prelúdio do começo
E que o começo vem antes do prelúdio.


Isso não é o fim,
Enquanto as crianças giram no carrossel
Todos saúdam sua chegada.


Isso não é uma canção do fim
E nem o fim da esperança.
Ouça o seu bater de asas.



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